Secretário da Receita diz que nova CPMF poupa mercado financeiro e gera empregos

Para Marcos Cintra, o tributo sobre movimentações financeiras é socialmente justo

21.ago.2019 às 16h09

Eduardo Cucolo

SÃO PAULO O secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, voltou a defender a criação de um tributo sobre movimentações financeiras nos moldes da antiga CPMF (https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/08/mesmo-contra-bolsonaro-e-maia-guedes-defendenova-cpmf-para-empresarios.shtml) para substituir o INSS patronal. Para o secretário, a nova CP (Contribuição Previdenciária) é socialmente justa e vai gerar um choque de empregos no país.

Cintra afirmou que o tributo em estudo não incidiria sobre algumas operações do mercado financeiro, como aplicações, que continuarão a pagar os impostos atuais.

Segundo ele, essa é uma demanda do Banco Central para não inviabilizar, por exemplo, as operações de rolagem da dívida pública.

Secretaria-Geral de Previdência e Receita Federal | Marcos Cintra ex-deputado federal, presidente da Finep, professor da FGV-SP. Formulador do projeto de imposto único - Robson Ventura/Folhapress

O secretário também afirmou que os críticos do projeto são pessoas que não leram e não entenderam a ideia --a proposta ainda não foi apresentada.

Disse ainda que, igualar a CP à CPMF é como comparar “baleia com macaco”, ambos mamíferos, mas animais diferentes.

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) (https://www1.folha.uol.com.br/especial/2018/governo-bolsonaro/) e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ) estão entre os críticos da volta de um tributo sobre movimentações financeiras.

“A CPMF hoje conta com todo esse repúdio injusto, porém visível na sociedade. Qual a grande diferença entre a CPMF e a CP? Vai substituir, por um imposto socialmente mais justo, um imposto pernicioso, injusto e gerador de desemprego [a contribuição patronal para o INSS] e que, se for eliminado, vai gerar um choque de emprego”, afirmou.

O secretário da Receita afirmou que a cobrança do tributo em dobro nos saques em espécie vai evitar que a CP promova uma desbancarização da população.

“A ideia é começarmos com uma alíquota baixa. Nenhum tributo é palatável, todo remédio é amargo,mas vamos tomar uma colherinha pequena, verificar o que está se passando na economia e ir calibrando sua implantação”, afirmou Cintra.

“São alguns cuidados que farão toda a diferença, se forem bem comunicados. São tributos de uma mesma espécie [CP e CPMF], mas que se distanciam de acordo com a forma a serem implantados. É a mesma coisa que dizer que baleia e macaco são a mesma coisa.”

O secretário participou de eventosobre reforma tributária

(https:/www1.folha.uol.com.br/mercado/2019/08/relator-de-reforma-tributaria-no-senado-nao-descarta-imposto-sobre-pagamento.shtml) organizadopelaCebrase(CentralBrasileiradoSetordeServiços) e falou que a desoneração da folha também é uma forma de compensar os setores perdedores das mudanças que estão sendo propostas pela PEC que tramita na Câmarados Deputados, que trata do novo tributo sobre consumo.

A ideia do governo federal, segundo ele, é criarum IVA (Imposto sobre Valor Agregado) com as mesmas características do texto que está na Câmara, mas sem mexer com tributos estaduais e municipais. Segundo Cintra, existe ainda a possibilidade de que a questão seja tratada porprojetode lei ou medida provisória, pois não haveria necessidade de se alterar a Constituição. Ele estima que a alíquota necessária para o novo tributo fique acima de 25%.

O terceiro pilar da reforma em estudo trata do IRPF e do IRPJ.

Cintra afirmou que o governo vai corrigir a tabela do IRPF, reduzir as deduções, mas sem acabar com elas, além de diminuir a alíquota do IRPJ, compensada pela tributação de dividendos e o fim de algumas isenções para aplicações financeiras.

O secretário cancelou a coletiva de imprensa marcada para ocorrer antes do evento, alegando atraso em sua agenda, e não quis falar sobre as pressões do Palácio do Planalto para promover mudanças em cargos de confiança na Receita Federal.